quinta-feira, 1 de maio de 2014

Humildade

Começo a achar que não conheço a humildade
E que neste mundo não sou nada,
Mesmo querendo ser tudo!
Tenho em mim esperanças, sonhos,
Pensamentos de conquistas e vitórias,
Mas depois percebo que sou aquele que tem jeito
E que nunca serei aquele que é o melhor.

Penso que não conheço a humildade,
E peço desculpa aos “Sr. Doutores” dos discursos nas câmaras
Que todos os dias me explicam o que é,
Mas ainda não consegui entender.
Ah, se houvesse uma voz verdadeiramente humana
Que me conseguisse explicar o que é ser humilde.
Se houvesse um humano verdadeiramente humano
Que me explicasse directamente o que é humildade
Sem no minuto seguinte dizer outra coisa a outrem.
Ah, se existisse gente humana no mundo…

Mas desistir é que nunca!
Se for preciso, vou derrubar muros até encontrar
Os verdadeiros humildes que me ensinarão
As regras da sensatez e da honestidade.
Gostava de percorrer toda a sociedade à procura de tais
Almas humanas que vagueiam por aí escondidas
Mas acho que nem vale a pena.
Por muito que eu escave e procure
O turista estará sempre perdido, mesmo que não esteja.
O mendigo será sempre drogado, ainda que apenas tenha fome.
Os humildes serão sempre os ignorantes, mesmo que sejam génios escondidos!
Quanta gente humilde neste mundo não estará, em segredo,
A desenvolver teorias que nem Einstein se lembrou,
A pensar em Filosofias que nenhum Nietzsche pensou,
A escrever poemas que nem Fernando Pessoa escreveu,
A criar genialidades que nenhum génio criou.
Mas serão na mesma os ignorantes, porque o fazem em segredo
E ninguém sabe a genialidade que está escondida
Na alma de cada uma dessas pessoas.
Se houvesse oportunidades,
Quem sabe não apareceriam novas melodias
Que Mozart não imaginou criar,
Ou novos quadros que Picasso nunca pensou em pintar.
Deito-me na cama com o coração a derreter,
Não pela chama demasiado forte, mas sim por todas
As dúvidas que me enchem a cabeça e me corroem por dentro!
Começo a ficar farto, verdadeiramente, farto.
Farto de tanta falsidade,
Farto que todos se achem uns iluminados,
Farto que todos façam tudo melhor que os outros,
Farto de não poder ser o melhor,
Farto de ignorância,
Farto de ti,
Farto de vocês,
Farto de mim,
Farto de tudo…
E mesmo assim, neste degredo de estar farto de tudo,
Nesta decadência de não acreditar em nada,
Ninguém me explica o que é a humildade?!
Arrrr, não há nem uma voz no mundo
Capaz de me dizer como poderei ser humilde sem ser ignorante?
Ah, pois, creio que isso é fugir para o impossível…
Oh Deuses, salvem-me deste pesadelo!
Mostrem-me gente humana!
Iluminem-me o caminho da minha vida!
Acho que nada mais posso fazer...
Levanto-me e vou para fora de casa encarar o mundo real.
E quando abro a porta o que vejo?
O mundo como sempre foi.
Ali está o mendigo, o turista e o humilde génio ignorante.
Talvez haja algo mais por trás de cada um.
Talvez exista uma metafísica inexplicável.
Mas isso eu nunca saberei!
E enquanto o mundo girava para o mesmo lado,
E tudo corria igual,
Eu, humildemente, escrevi este texto,
Encontrando a verdadeira humildade
Nas profundezas do meu ser,
Sem que ninguém me explicasse o que tinha de fazer.
E no súbito momento em que penso e repenso
Sobre tudo que até agora escrevi
Encontro-me com o dono do café onde me sento agora.
Ele sorri e age como sempre agiu.
E naquele momento, tudo que estava a pensar,
Evapora-se no ar como se nunca tivesse escrito nada,
Mantendo apenas a tristeza e o vazio
De saber que o humilde, nunca poderá ser o génio.


                                                                                                         Zé Pedro Ribeiro
                                                                                                         21/04/2014


domingo, 27 de abril de 2014

Inquietação

Acordo de manhã e algo não bate certo.
Algo não está no seu lugar.
Um pequeno desassossego causa um nervosismo que faz tremer os sentimentos.
Levanto-me.
Olho pela janela e tudo parece estar igual.
Mas então porque tremo eu?
O dia nasceu, a chuva cai, o vento sopra e logo pela noite a lua virá trazer as estrelas.
Mais uma vez me pergunto:
Se tudo está normal, de onde vem esta inquietação?!
No meio de toda esta tempestade de pensamentos que me abraça o espírito eu vou a outra janela.
Talvez nesta algo esteja diferente e seja capaz de me justificar esta assustadora ansiedade que me persegue… Mas não!
Mais uma vez, tudo está normal.
Limito-me a pegar num copo de água, quem sabe este líquido tão natural me trará alguma calma… Mas de novo falhei.
Sinto-me fraco.
Sinto-me reles.
Sinto-me a desesperar.
O que poderei eu fazer para parar com esta decadência?!
E no momento em que levo as mãos à cabeça e solto um grito rompante apercebo-me…
Apercebo-me que somente eu estou inquieto.
Bebo mais um gole d’água, olho de novo pela janela e simplesmente sigo.
Sigo porque só me resta seguir.
Assim, no caminho para mais um dia percebo que, efectivamente, tudo está igual.
Tudo está normal e sereno.
E que, no fim de contas, eu é que sou a tão vil e infecunda… Inquietação!


                                                                                                Zé Pedro Ribeiro
                                                                                                01-04-2014

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O fim ?


Vida…
Palavra tão pequena, significado tão grande.
Dizem que o seu fim
Marca o fim de tudo,
Mas não consigo imaginar!
Só quem chega ao fim desta longa aventura
A que chamam vida,
Poderá dizer qual o destino restante
Quando ela encontra o seu fim.
Ah, morte tão indesejada!
Tu que marcas o final da longa viagem
Tu que trazes a mágoa e a tristeza
Tu que levas quem por vezes não deve ir
Trazes também a paz?!
Tu que és causadora de todo o sofrimento,
Revolto-me por aqueles que levas cedo demais
Por aqueles que levas e não merecem
Por aqueles que levas sem justificação…
Afinal, o que és tu, ó morte?!
Ah, se houvesse um Deus capaz
De descer ao planeta giratório
E explicar qual a razão da tua existência.
Porque arrancas tu as lágrimas
Dos pais que perdem os filhos?
Porque destróis tu corações
De gente que ama com todo o seu coração?
Porque os levas contigo?
Porque?!
Não sei.
Nunca saberei.
Nunca ninguém saberá.
No entanto, há algo que eu sei!
Por muito que, injustamente, tires a luz dessas vidas
Haverá uma nova estrela no céu a brilhar!
Por muito que, sadicamente, leves a vida
Eles vencer-te-ão com a paz!
Por muito que lhes esmagues o corpo
Nunca conseguirás vencer-lhes a alma!
Tu morte, injusta, dura e cruel:
Nunca vencerás a alma de quem levas contigo.
Porque essa alma sempre viverá
Nos corações de quem fica cá!

                  
                                                                                                                 Zé Pedro Ribeiro
                                                                                                                 23/04/2014

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Noite

É pela noite que me descubro.
Não consigo saber porquê
E se calhar também não quero saber.
No entanto, nenhum cansaço faz parar
A minha involuntária procura pela explicação.
Por vezes acredito que essa explicação esteja nas estrelas.
Essas apenas se mostram visíveis pela noite (tal como eu me descubro só pela noite)·
E só à noite é que elas vêm trazer
Um pouco do seu brilho, um pouco da sua beleza,
Um pouco da magia cintilante que transmitem
Para a profundeza dos nossos olhos.
Ah, e eu, neste momento, sinto-me uma estrela!
Perco-me nestas letras que escrevo pela noite,
E para mim, esta é a magia cintilante que transmito.
Pode não ser bela como uma estrela,
Pode não brilhar como uma estrela,
Mas é, certamente, a magia que eu consigo transmitir
Para os vossos olhos que lêem a minha poesia.
E assim aqui estou, a delirar.
Sinto o suor a escorrer pela minha face
Ao libertar toda a euforia que há em mim,
Sinto arrepios fortes que me fazem escrever
Cada uma destas letras prematuras que escrevo!
E escrevo, risco e escrevo por cima.
Penso.
Transmito.
E faço magia como uma estrela.
Mas nunca chego à excelência de brilhar!
E é mesmo assim que encontro o fim deste desabafo,
Sendo obrigado a parar de escrever.
Não por falta de vontade, mas porque é noite,
E quanto mais noite fica, mais eu me descubro,
E mais eu entendo que por muito que escreva,
Acabarei sempre por ser uma estrela
Que transmite magia para os vossos olhos.
Mas entendo também que nunca serei a lua!
Nunca serei capaz de iluminar a noite mais escura como a lua,
E de ser o mais brilhante no meio das estrelas.
Sou apenas mais uma vulgar estrela no céu escuro
Igual a todas as outras.
E, mesmo assim,
Só serei uma estrela capaz de transmitir a “magia cintilante” que faço,
Enquanto não vierem as nuvens
Para tapar o meu brilho
E para me impedirem de transmitir esta magia
Que irradio para os vossos olhos através de palavras
Durante esta longa noite!


                                                                                                              Zé Pedro Ribeiro
                                                                                                              16/04/2014
Apresentação

O que sou eu?
Talvez um poeta louco,
Talvez um louco que se acha poeta
Ou até quem sabe, dos dois um pouco

Serei uma pessoa frustrada
Que da vida nada conseguiu?
Ou serei um construtor
Cuja obra simplesmente evoluiu?

Se calhar não sou nada,
Se calhar sou mais que tudo
E se me questionam sobre quem sou
Digo que não conheço o meu conteúdo

Sou um deambulador nato
Que um dia de cada vez tem andado
À procura do sentido vital
Que só será trazido pelo fado

E assim apresento-me a vós
Que ledes a minha poesia.
E já que não sei quem sou
Tento ficar mais um dia
Na crença de chegar à conclusão
Que pelo menos marquei o vosso coração.


                                                                                                                   Zé Pedro Ribeiro
                                                                                                                   06/04/2014